Reflexões


Um artigo, uma esperança

Li e recomendo bom artigo da jornalista Bruna Ribeiro no Estadão http://emais.estadao.com.br/blogs/bruna-ribeiro/racismo-institucional-criancas-jovens-negros/. Acho importante atentarmos para a superação de limites no entendimento da realidade da expressão “genocídio negro”, que finalmente vai ganhando circulação fora do meio de ativistas de movimentos negros.

Uma atualização da linguagem jornalística que, a se confirmar, tem evidentemente implicações profundas. A ética da representação jornalística estaria sofrendo abalos entre nós, no que diz respeito às reais condições de vida da população negra?

Falo ética porque não se tratava evidentemente de uma questão de ignorância, pura e simplesmente. Todos sabiam o que faziam, o que escondiam e escondem no noticiário. O silêncio dos meios de comunicação sempre funcionou como uma autorização de prestígio, não tem inocente nessa história de barbárie.

O título do artigo de Bruna Ribeiro é “O impacto do racismo institucional na vida de crianças e jovens negros”, e ele vem encimado pela rubrica “genocídio negro”, uma indicação pertinente que foge à abordagem enviesada tradicional em nossas mídias.

O bicho está pegando, penso logo que boto o olho no artigo, que foi escrito em condições tais que permitiram mobilizar um conhecimento da realidade social e econômica dessa população que é normalmente desprezado pelos jornais.

Uma tarefa nada fácil, como se fôssemos restituir uma cor a cadáveres ao longo de décadas passadas, exumando os corpos dos arquivos dos próprios jornais. Uma espécie de iluminação retrospectiva. A realidade macabra criada por uma negação sistemática – o negacionismo, que colocou os assassinos sempre em um lugar de prestígio e ocultou as vítimas.

Seria bom que o artigo de Bruna Ribeiro sinalizasse uma ruptura com esse quadro. No momento em que brotam nas ruas sementes do autoritarismo e do fascismo seu artigo é um sinal da resistência possível à lógica do aniquilamento em que submergem jornais e jornalistas.

Edson Lopes Cardoso
Jornalista e Doutor em educação pela Universidade de São Paulo



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